quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cidadão Inviável




Só o que cresce é o estado...
...mesmo?

Na matéria “Só o que cresce é o estado”, publicada na revista Veja em 7 de março de 2007, a postura neoliberal é clara. Chega a mostrar a década de 90 como referência de tentar desvincular o estado de seu compromisso para com o povo, firmado pela Constituição de 1988.

A Constituição de 1988 é considerada a “Constituição Cidadã”, em grande parte por legitimar o compromisso do estado para com o seu povo. Na matéria esta é apontada como a principal vilã da falta de investimentos em aeroportos, portos, e estradas, pois os gastos assistencialistas consumiam na época de 35% a 39% do PIB (produto interno bruto).

Fábio Giambiagi, economista citado por Cíntia Borsato em sua matéria, diz que “já não há como negar que no âmago do atraso, aparece como destaque a Constituição de 1988.” A parábola do ensinar a pescar é citada, dizendo que o erro foi que a constituição não ensinou a pescar, e sim, deu o peixe a todos. Bom, aqui pontuo um erro duplo: não somos pessoas a quem o estado plenamente garante tal benéfico, e mesmo que fosse verdade, um estado para o povo logicamente deveria ser pelo povo, o que não condiz com o nosso fragilizado neoliberal, que está sendo destruído pelos que ironicamente até o momento mais beneficiou: a elite.

Giambiagi comenta que o tratamento ao povo gera gastos aos cofres públicos, o que eleva os impostos ao mesmo povo. E neste ponto concordo com ele, mas discordo de como corrigir este erro, creio que embora não seja o que a elite quer, caberia uma nova forma de administrar o Brasil visando mais a igualdade social do que a disparidade. A fiscalização e pagamentos diferenciados de impostos por quem pode mais é uma possibilidade em geral ignorada. Isso por que é sempre dito que quanto menos impostos e outras obrigações trabalhistas possibilita gerar empregos, porém cabe comentar que não retrata a qualidade dos mesmos (na primeira foto que aparece na matéria é feito o comentário de que o setor de telemarketing emprega por não ter tanta influência do estado, mas não diz que esta falta cria empregos ou mais precários quanto a qualidade do ambiente do trabalho, ou pela perspectiva de crescimento profissional, pois a renovação constante dos trabalhadores apontam para isso). Administrar e fiscalizar os benefícios obtidos repetidas vezes no ano em forma de aumento de salário e reajustes, além dos conhecidos desvios de verbas públicas por quem usa da confiança em urna do povo para elevar a patamares estratosféricos a sua condição e de seus subordinados também diminuiria o gasto dos cofres públicos, e estas alinhadas a outras medidas de mesmo cunho aliviariam muito os nossos gastos quanto a nação.

É considerado uma bomba os direitos civis (mesmo que muitos estão mais na teoria do que na prática) por gerar gastos públicos que pelo que a matéria induz a entender são um atraso, ao invés de se investir em infra-estrutura. Não discordo de investir, mas já comentei que o erro também pode estar em não gerir corretamente o que é do povo, como no caso das privatizações. Creio que ao invés de privatizar os bens públicos por estes mais gerarem gastos do que lucros, cabe reavaliar as posturas administrativas, pois não encontro outro motivo para o bom funcionamento e lucratividade das empresas quando são privatizadas do que o de elas terem sido mal administradas pelo estado, que poderiam beneficiar mais o povo quando são administradas para e pelo povo, antagônica a estarem rendidas aos interesses de grupos externos aos estado, visivelmente mais motivados pelo capital.

Voltando ao texto e sua indução, destaco mais uma frase. “A produtividade é o principal determinante do desenvolvimento duradouro de um país.” Eu penso que este determinante é o que leva ao que Karl Marx chama de lucro, que acirra ainda mais a luta de classes. Ideologias como esta vinculada em uma revista como a Veja não tem outro intenção que não seja, novamente citando Marx, a alienação.

O texto traz comparações estatísticas dizendo que o crescimento de países com gastos estatais menores a 10% tem crescimento de PIB maior do que os que gastam 20%. Novamente ao relatar o culpado, o povo é sumariamente acusado das despesas, e nunca a elite e nossos gestores democraticamente eleitos (pela falta de outros possíveis responsáveis, é o que leva a entender).

Para finalizar, é citado na matéria os principais tópicos desse nosso “atraso”, e eu vou reproduzir o último e notoriamente mais neoliberal de todos:

“Viés anticapitalista – A ética anglo-saxã incentiva as pessoas que se dão bem pelo esforço próprio. Ela se alicerça no império da lei, de modo impessoal e valendo para todos. No Brasil, a tradição socioreligiosa é de outra ordem: predomina o desejo de obter recursos e privilégios do setor público. Para muitos brasileiros, o lucro ainda é sinônimo de pecado.

Tudo óbvio? Mas nada é mais difícil e cansativo do que tentar demonstrar o óbvio...”


Bom, pensando em religião, e em uma moral cristã, Cristo não veio ao mundo (para os fiéis) para obter lucro, ele veio para e pelo o povo, e pregava a felicidade pela fé, não pela avareza.

Sociologicamente, não é a busca meramente de privilégios públicos, e sim o de igualdade social, que por não ser facilmente aceita pelos que estão na elite e querem ter lucros cada vez mais do que outros, tem que ser instituída inicialmente pela lei, até que todos compreendam a necessidade ética da igualdade social.

2 comentários:

  1. Veja, como sempre, a muleta dos pseudo-intelectuais.

    É a velha história, "O trabalho enobrece o homem", "não cresce na vida quem não quer", "Seja 'alguém' na vida" e outras histórias que só servem para o povo trabalhar mais e mais, para sustentar nossos amiguinhos que "Venceram na vida".

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  2. Essa porcaria de "revista" acha que manipula opiniões. pelo menos a de quem pensa não.Achei interesante seu ponto de vista. o que de fato é real. parabéns continue incomodando esse povo!

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